10.06.2010

Architecture | Sobre um espelho em Veneza_ ESMoura + Ângelo de Sousa




Um plano espelhado, suportado por vigas que atravessavam as janelas da Fundaco Marcello, no Canal Grande, era o objecto central da representação portuguesa na Bienal de Veneza, comissariada por José Gil e Joaquim Moreno. Numa leitura imediata, este elemento completava a frente do armazém de um só piso e estabelecia uma continuidade de alinhamento com os edifícios adjacentes. O uso de uma superfície espelhada acrescentava uma certa dose de provocação, tendo em conta o actual conservadorismo de Veneza; afinal, as superfícies envidraçadas e neutras são o símbolo maior da temida “cidade moderna”.
Os autores da intervenção, Eduardo Souto de Moura e Ângelo de Sousa, assumiram ainda a referência ao famoso desenho de Robert Venturi onde consta um volume banal com um cartaz que proclama: “I Am a Monument” (à época, um “contra-projecto” para o Boston City Hall). No decorrer do processo, chegaram a contemplar a hipótese de recorrer a essa frase, e inscrevê-la no plano, ou a uma alternativa: “Io Sono un Specchio” (talvez um cruzamento invulgar de Venturi com o Magritte de Ceci n’est pas une pipe). O desenho de Venturi é uma aplicação da teoria do “decorated shed” (barraco decorado), um tema encontrado em Learning From Las Vegas1: a arquitectura podia afinal ser fancy e chã, já que um elemento decorativo sobreposto faria a festa. Aí está uma arquitectura “populista”.

in J.A

Sem comentários: