2.19.2009

Cinema | O Surrealismo de Luís Buñuel

A propósito de uma discusão pertinente sobre o acontecimento do surrealismo no cinema, foi.me apresentado o cineasta Luís Buñuel. Aqui fica uma síntese do trabalho do autor, (os diálogos podem.se tornar um pouquinho aborrecidos, mas vale a pena ver a apresentação, clarifica bem o propósito e o conteúdo ).





Belle de Jour_starring Catherine Deneuve_France, 1966


(...)Em Belle de Jour, o carácter onírico dos filmes de Buñuel acentua-se a um ponto limite. Nunca sabemos bem quando Séverine está a sonhar, a recordar ou a viver, a ambiguidade que começa no início (genérico com a carruagem e os obcecantes guizos da banda sonora) e se mantém até ao fim, quando Pierre se levanta aparentemente curado e se repete a imagem inicial (só que, nesse último plano, os cocheiros conduzem uma carruagem vazia).

Tudo começa e tudo acaba numa tarde de Outono, num parque, com folhas caídas pelo chão. Na banda sonora ouvimos o barulho da carruagem e uns guizos que não são muito plausíveis. No inicio da sequência, existe uma conversa banal do casal burguês com referências implícitas à frigidez de Séverine (mais uma vez, é tentadora a aproximação com o mundo de Hitchcock e com a frígida Marnie). A “belle de nuit” transforma-se então em “belle de jour”, gata borralheira ao contrário. Na sucessão das espantosas personagens que entram naquela casa, uma há que ganha relevo especial: o professor masoquista, com a sua assombrosa metamorfose, perante o qual Séverine é incapaz de representar um papel que, fundamentalmente, é seu.

Aqui se resume a suprema astúcia de Buñuel: coloca-nos na posição e na perversão de Séverine, sempre querendo ver mais, sempre nos sendo frustrada a visão. A tal confusão entre o real e o imaginário provém desse mesmo, “catecismo do travesti”, para usar uma expressão de Camoli. Se nunca sabemos bem onde estamos, se nos perdemos nas máscaras, é porque o nosso desejo é semelhante ao de Séverine, com ela apagando quando a luz se faz na sala, os traços comprometedores da obscuridade. (...)

Le.iti


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