Já há algum tempo que andavamos a prospectar esta visita. Hoje foi o dia, proveniente do improviso e frustação de todas as combinações que acabaram por nunca acontecer. '-Vamos entrar!'
Fiquei logo deslumbrada por toda a composição que se seguiu, desde a vivência atribuída aos jardins dos palácio, assim como o 'café com letras' ou a fantástica introdução do novo elemento construtivo, tao delicado como um acorde da minha querida amiga Luísa Viera.
O CAMB,(Centro de Arte Manuel de Brito) pelo que eu entendi e pela apresentação da maquete da sua remodelação, consiste numa bela metamorfose entre a fantasia e a necessidade moderna. É sobretudo um espaço que se dedica á Arte Contemporânea, e está sediado no Palácio dos Anjos, edifício do século XIX. A aura de passado que envolve o local contrasta harmoniosamente com a arte que aqui está exposta pertencente á colecção Manuel de Brito, que contém obras de Graça Morais, António Dacosta, Palolo, Ana Vidigal, Eduardo Luiz, Eduardo Batarda, Júlio Pomar, Menez que fizeram as nossas delícias. Mas vamos lá ao 'topping do bolo':
PAULA REGO anos 80!

Nesta exposição são apresentadas obras desde os finais dos anos 50 à actualidade.É possivel uma leitura atravéz de uma apresentação cronológica pela possiblidade de um estudo da evolução do trabalho da autora neste período, quer pela sua diversidade, quer ao nível das temáticas, suportes e técnicas. A linguagem da autora ainda não era o que conhecemos tão bem hoje. A década de 80 mostra uma Paula Rego cheia de cores vibrantes e quadros cheios de personagens no minímo diferentes. Aquilo que eu senti, além de um encantamento e uma euforia descabida, (e por todas as ocasiões em que ja disfrutei de trabalhos da autora), cada vez mais me convenço que Paula Rego pinta com os olhos de uma criança que devora histórias antes do sono. Desenvolveu sem dúvida uma imagem dentro de si, daquilo que são pessoas vulgares. Pinta a guerra, o aborto, mas também a metamorfose da obra homónima de Kafka, ou as mulheres de “O Crime do Padre Amaro”, de Eça de Queirós. A sua obra tem uma força extraordinária e cria ambientes tão banais, tão caseiros, que se torna perturbadora. A maneira quase infantil de se expressar faz de Paula Rego uma personagem intrigante, a quem ninguém fica indiferente. Em certos momentos, tem uma perturbante doçura. Noutros, uma assustadora agressividade. Mas os seus quadros são belos, como tudo o que é indomável.
Inédita também é a apresentação de 7 novas obras, tendo 5 dessas obras sido desenvolvidas propositadamente pela artista para esta exposição: a série Mutilação Genital Feminina. Uma conclusão para todo o processo de que falei no inicío deste post: 'quando? onde? porquê?'.
Le.iti
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